domingo, 16 de fevereiro de 2020

Piscinão-Prefeito Bruno Covas usa desculpa de enchentes para justificar obra suspeita




A questão dos cálculos sobre alagamentos não pode se centrar apenas na quantidade de água que cai durante uma chuva em uma determinada região. É preciso levar em conta o tempo de duração dela e encontrar a quantidade de mm por hora. Da mesma forma, é preciso saber o valor em mm/h dos sistemas de escoamento de galerias e da capacidade de absorção pela drenagem em praças, jardins e etc para poder concluir se são suficientes ou não para evitar enchentes, um cálculo que não tenho dados e informações para fazer. Mas por outros meios é possível se chegar a um valor aproximado.



A bacia do Tiburtino no trecho entre as ruas Aurélia, Cerro Corá, Pio XI e a linha do trem(Lapa de Baixo não conto, explico mais abaixo) compreende cerca de 3 milhões de m2. Como a maioria das chuvas que não costumam causar grandes problemas nessa região são de até 30mm/h podemos supor que esse valor pode ser considerado como a soma do que pode ser absorvido pela drenagem existente e a parte que consegue ser escoada pelas galerias. Isso se confirma no fato de que durante a madrugada dessa segunda feira, dia 10/02/20, as chuvas provocaram inúmeros alagamentos e um verdadeiro caos em toda a cidade.





Das 1h às 4h choveu 85,4mm na região da Lapa segundo a agência Climatempo, ou seja, 55mm a mais do que o sistema pluvial local teoricamente poderia suportar, o que representa 165 mil m3, ou quase OITO piscinões iguais ao que a prefeitura quer fazer na praça São Crispim(com 21,5 mil m3 de capacidade) para evitar alagamentos na região do mercadão.



Mas a região do mercado da Lapa NÃO ALAGOU. E não alagou porque a chuva durou três horas, que resulta em 28,4 mm/h, estando dentro da estimativa do raciocínio acima de que a região suporta chuvas de até 30 mm/h sem alagar, mesmo diante do sucateamento da rede, que é antigo, subdimensionado, mal conservado e com inúmeros entupimentos crônicos.


O que alagou foi a região da Lapa de Baixo, localizada entre a linha de trem e a marginal do Tietê, que devido à sua característica geográfica não tem nível suficiente para escoar as águas para o rio Tietê, ainda mais quando este já está cheio e transbordando. Mesmo que nessa madrugada não caísse uma gota de chuva na Lapa de Baixo e em toda a região do córrego Tiburtino, ela alagaria da mesma forma, por transbordo do rio Tietê. E analisando-se os locais mais castigados, como o CEAGESP  e outros, verifica-se que a imensa maioria deles foram causados pelos mesmos motivos da Lapa de Baixo, assim como a história das enchentes na cidade de São Paulo sempre apontou para a mesma causa.

A primeira lição dada pela natureza nessa semana foi que a área que necessita de investimentos para evitar ou diminuir as enchentes na cidade, é toda a localidade da chamada várzea do Tietê e do rio Pinheiros, que, essas sim, pedem pela construção de vários piscinões e aprofundamento das calhas dos dois rios.



A segunda lição, foi que o projeto de assassinar as árvores da praça São Crispim na Lapa, impermeabilizando  o solo de uma grande área de absorção para construir um piscinão é absolutamente contraditório, desnecessário, inútil e dinheiro jogado fora, é usar-se do poder da caneta de um burocrata para desapropriar um bem do povo, dando a alguma empresa interessada o direito de se apropriar de uma área pública, incluindo até trechos de DUAS ruas, para construir um prédio privado em cima da laje.



Mas o prefeito Bruno Covas não quis aprender nada com essas lições, ignorou o sofrimento de tantos e, em vez de propor soluções de fato efetivas, preferiu se usar desse triste momento para justificar um projeto injustificável e que só faz suspeitar a quais interesses atende. Sua determinação em entregar praças e até trechos de RUAS para dar a construtoras o direito de se apossar dessas áreas para construir PRÉDIOS, evidencia que o piscinão embaixo do prédio é um mero detalhe, pois serão totalmente inúteis se construídos nos locais escolhidos, ficando claro que o interesse não é o de atender ao interesse do povo e sim o do mercado imobiliário. Ou não é muito estranho que diante de tantas necessidades urgentes de investimentos da cidade, o prefeito queira construir  um piscinão para resolver alagamentos em um dos poucos lugares ONDE NÃO ALAGOU?

Piscinão em praças para construir prédios privados é ROUBO de área pública!




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